sábado, 8 de maio de 2010

Tapete como livro


O que é exatamente um kilim? Qual a diferença de um tapete turco de um persa? Onde exatamente na Turquia vivem estas tribos nômades que produzem tão belos tapetes? Essas foram algumas das centenas perguntas com que bombardeei o simpático casal dono de uma renomada loja de tapetes aqui em Ankara. Uma amiga estava decidida a comprar um tapete para seu apartamento e me convidou para ir com ela na loja em questão, perto do bairro das embaixadas. Tenho centenas de páginas para ler para o exame final do curso que faço em Bilkent, mas o dia ensolarado de primavera e o convite para fazer algo inédito em minha estada aqui falaram mais alto. Pegamos um dolmuş (um dia escreverei sobre esse meio de transporte típico daqui) e um táxi e chegamos lá na hora do almoço. Mesa posta, mais uma senhora na loja, e um bom tempo de refeição deliciosa (e saudável!) com os simpáticos donos. Ali expus diretamente a minha completa ignorância sobre tapetes. O dono imediatamente me brindou com dois livretos que escreveu sobre o tema, que devoro no momento. Passamos então para outro cômodo, para tomarmos chá e café turco e para que minha amiga escolhesse o tapete. Que aula, meu Deus! Cada tapete que ele mostrava para ela tinha uma história e uma geografia que só conheço de leve: Tabriz, Samarkand, Uzbequistão... Cada aldeia, cidade ou região, uma técnica, um padrão. Como diz o dono, cada tapete pode ser lido como um livro. As mulheres (é uma atividade necessariamente feminina) que os fazem expressam seus sentimentos com cores, desenhos e os costumes de sua tribo. Aquele feito por uma jovem noiva difere muito de uma mulher casada com filhos, a primeira cheia de ansiedades e expectativas e a última menos emotiva. Ele falou também do costume turco de doar tapetes para as mesquitas em agradecimento por algo ou em memória de entes falecidos, que tinha me passado despercebido, mas que explica o porquê das mesquitas que visitei em Istanbul serem tão macias: dezenas de camadas de tapetes! Aliás, por aqui nada de meias manchadas ou rasgadas ou pedicure sem estar em dia: tem que necessariamente tirar o sapato para entrar em mesquitas e tumbas e na casa das pessoas também. Nos primeiros por vezes dão um saco plástico para carregarmos os sapatos ou uma espécie de toca plástica para por em volta. Já nas casas turcas, normalmente nos oferecem um chinelo de andar em casa, mas o sapato fica na entrada. Depois de horas avaliando minha amiga decidiu que iria voltar dentro de uma semana, para confirmar se de fato amou o que escolheu e levar. Sábia decisão já que eles não são nada baratos. Quanto a mim, totalmente fora do meu orçamento comprar um, mas totalmente no contexto do meu objetivo de aprender o quanto mais por aqui.

2 comentários:

  1. Monique, cara,

    Ter um tapete turco é uma experiência sem par e fonte de alegria infidável para seu dono. Toda vez que piso no meu sinto uma nostalgia inexplicável... é algo de que raramente, embora haja tapetes para todos os orçamentos e gostos, nos arrependemos. Mas, como você bem disse, a aula com que os vendedores de tapetes turcos (os vendedores - não necessariamente os tapetes) nos brindam (gostei da palavra!) não tem preço (com o perdão dos muitos parênteses e clichês). O mais interessante de tudo é que, se bobear, eles falarão tranquilamente em sua (2a. pessoa, não 3a.) língua pátria, como até o fizeram comigo em Avanos, Kapakokya, Turquia.

    Belo comentário, Monique, continue-o!

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  2. Marco, serio que eles falaram com voce em portugues? Esss que eu citei ai ficaram admiradissimos de ter uma brasileira nas redondezas. Beijao!

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