segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Islã


Eu e cerca de dez mil pessoas resolvemos visitar a exposição “Islã” no CCBB carioca no último dia 15/10. Valeu a pena pela exposição em si e pelas pessoas legais que ali encontrei, mas doeu no peito ler que o Império Otomano teria sido fundado em 1453pelo sultão Mehmet II ao tomar Constantinopla!! Este foi fundado em 1299 por Osman, que deu seu nome à dinastia (Osmanlı, em turco), e o erro teria sido corrigido com um pouco mais de cuidado na revisão do material. Apesar da implicância inicial (o dado está em uma espécie de quadro sinótico logo no início da exposição), gostei e aprendi muito com o resto. Não tinha a mínima idéia dos fabulosos acervos dos Palácios de Azem e Al-Gharbi e dos Museus Nacionais de Alepo e Damasco, na Síria, muito menos do Museu dos Tapetes, no Irã. Estão lá peças com belíssimos arabescos, mas também algumas que representam a figura humana, mostrando que o banimento do uso deste tipo de imagem não ocorreu desde sempre no mundo islâmico. Um “muxarabi” (mashrabia, em árabe) damasceno do século XI, imediatamente me trazia à mente aqueles retratados por Debret no Rio do início do XIX, me forçando a reler o delicioso capítulo “Oriente e Ocidente” de Gilberto Freyre em “Sobrados e mucambos”. O material remonta ao século VIII e têm o mérito de apresentar diretamente ao público brasileiro uma cultura ainda pouquíssimo conhecida por aqui. Um pouco de tecnologia, porém, também enriquece a exposição, como a projeção em 360 graus que permite a visita virtual a algumas mesquitas como a Blue Mosque (Sultanahmet), de Istambul. Segundo um dos organizadores, a exposição deve rodar ainda por São Paulo e Brasília no ano que vem e nesta semana se inaugura uma espécie de apêndice, com obras de artistas contemporâneos. Para quem estiver pelo Rio, vale a visita. Para quem ficar com gostinho de "quero saber mais", vale a leitura de “Islã: Religião e Civilização. Uma abordagem antropológica”, de Paulo Gabriel Hilu, recém-lançado.