domingo, 16 de maio de 2010

Bursa


Sexta-feira foi meu último dia de aula do curso de história otomana e como só tenho compromisso em Bilkent dia 25, resolvi viajar. Terça tenho que estar em Istanbul. Lá encontrarei uma das minhas melhores amigas para cinco dias de bateção de perna pela cidade e alguma pesquisa. No caminho para lá, porém, decidi vir finalmente para Bursa. Primeira capital otomana, sede da tumba do fundador da dinastia que deu nome ao império e local visitado por d. Pedro II em outubro de 1876, razões não me faltavam para visitar essa cidade. Munida do querido Lonely Planet e de dicas maravilhosas dadas por amigos búlgaros, saí de Ankara. Seis horas de viagem no super confortável ônibus da empresa Nilüfer (os ônibus aqui tem serviços de ‘rodomoços’ e monitor de TV individual) e cheguei a Bursa no início da madrugada. Tinha feito reserva, de modo que vim direto para o simples, limpo e bem localizado Hotel Çeşmeli, e "desmaiei" de cansaço. Hoje cedo, porém já estava de pé para começar a explorar a cidade. Fui logo para a Ulu Camii (le-se Djamii), curiosa com o tal estilo seljúcida da mesquita construída no final do século XIV, mas reformada várias vezes após incêndios e terremotos. Ao sair, uma adolescente turca puxou papo e pelas próximas duas horas foi minha companheira de passeio. Seu nome é Ipek, que em turco é o mesmo de um dos principais produtos da cidade: seda. Na companhia da Ipek, explorei o Koza Han, caravançarai e mercado de seda construído no final do século XV, e que ainda mantém a tradição de vender lenços e roupas deste material, lindos e por preços bem acessíveis. Em cada vitrine, além de lindas echarpes e kaftãs, fotografias da visita da rainha britânica Elizabeth II em 2008. Segundo o dono da lojinha em que finalmente adquiri alguns lindos lenços, ela só comprou na loja dele e as demais fotos eram fakes. No pátio central, charmosos cafés. Sentei um pouco com Ipek e ouvi encantada suas histórias de garota de 16 anos que conhece um pouco do mundo (e aprimora seu inglês) através do contato com os turistas. Ela me mostrou animada o caderno em que todos deixavam dedicatórias e e-mails e falava de sua paixão por Tom Cruise e Anne Rice (algo que nasceu com “Entrevista com o vampiro”) e do pouco conhecimento que tinha sobre o Brasil: Rio de Janeiro, carnaval e novela O Clone. Amizade feita, já incluída no Facebook, e Ipek teve que ir para sua aula. Segui para minhas andanças de historiadora querendo ler a cidade e os monumentos, tanto quanto um livro. Finalmente achei as tumbas de Osman e Orhan, que ficam em um parque lotado de turistas muçulmanos, mas também de moradores locais. Lembrei-me dos viajantes europeus do XIX que sempre se espantavam com o fato dos turcos terem nos cemitérios um dos principais locais de lazer, fazendo piqueniques, por vezes sentando tranquilamente sobre as tumbas. Aqui não foi o caso, por se tratarem de personalidades por demais importantes, mas em várias localidades da cidade, simpáticos cafés funcionam ao lado de antigas madrassas ou mesquitas, cercados de tumbas. Tomei um cha ao lado de uma familia inteira de notaveis do seculo XVIII...

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