quarta-feira, 5 de maio de 2010

Senhor Algodão




D. Pedro II e Orhan Pamuk foram os responsáveis pelo meu repentino interesse pelo Império Otomano e pela Turquia. Os documentos do primeiro, principalmente as fotografias depositadas na Biblioteca Nacional e seus diários publicados em CD-ROM pelo Museu Imperial de Petrópolis, me abriram para um novo mundo de possibilidades de pesquisa. Já Pamuk, que quer dizer algodão em turco (foi engraçado ver logo quando cheguei que comprava uma blusa 100% pamuk!), primeiro me fez me identificar profundamente com Istanbul, e depois, livro a livro, foi me encantando. Ao chegar à Turquia, em janeiro último, logo quis compartilhar minha adoração por ele com os turcos e... que decepção! Até bem pouco tempo atrás não tinha encontrado um só turco que o admirasse. Os motivos para boicotá-lo são muitos, sendo o primeiro, quase sempre, o fato de ter feito um discurso pouco depois de ter ganhado o Nobel reconhecendo o “genocídio armênio”, questão espinhosérrima aqui. Depois, com quase igual intensidade, há uma reclamação pelo seu péssimo turco (como o leio em português ou inglês, nunca vi problemas, mas pelo jeito, os tradutores fizeram milagres). Por último, um incômodo por retratar somente uma elite istanbullu, com a qual muitos não se identificam. Tenho procurado ler outros autores turcos que me recomendam e já me tornei fã de Aişe (lê-se Aishe) Kulin e Yaşar (lê-se Yashar) Kemal e Tampınar já esta na minha estante aguardando para ser devorado. Kulin escreve romances históricos, com tanta fluidez que virei a noite ate acabar “Farewell” e simplesmente esqueci do mundo com “Aylin”. Kemal escreve sobre sua aldeia na Anatólia e ao mesmo tempo sobre o mundo (estou no meio de “Memed, my hawk”). O livro de Tampınar que comprei, “A mind in peace” trata de Istanbul no inicio do XX e foi várias vezes citado por Pamuk em seu “Istanbul: cidade e memória”. O tempo é curto e os interesses são muitos, mas vou fazendo o meu melhor. Vou tentando convencer as pessoas que o Brasil é mais do que Paulo Coelho também. Em qualquer livraria seus livros estão entre os Best Sellers, tem banners de “Brida”, e por vezes a biografia escrita pelo Fernando Morais... A verdade, porém, é que não ando atualizada no Brasil. Fora Milton Hatoum (que amo!!!), não tenho sido fiel a nenhum autor, embora goste muito do Bernardo Carvalho (“Nove Noites”, da Tatiana Salem-Levy (“A chave de casa”) e da Vanessa Barbara (“O livro amarelo do terminal”). Esse negócio de tese limita muito as leituras, para dizer a verdade. De qualquer forma, a paixão por Pamuk, segue firme e forte e não vejo a hora de visitar em Istanbul seu Museu da Inocência, parte das comemorações de “Istanbul 2010”, capital cultural da Europa.

Um comentário: