quinta-feira, 18 de abril de 2013

Paris Oriental

Paris e daquelas cidades que agrada a todos. Tem sempre algo de interessante. Como ja constava na minha biografia a visita aos lugares "obrigatórios", resolvi focar essas minhas 48 horas na cidade-luz numa visita temática. Foquei meu interesse no que há de Oriente em Paris. Preparei um roteiro pormenorizado que meus ex-alunos que aqui encontrei ao virem logo acusaram: professora! Pois e, fiz o dever de casa de verificar horários e afins e no final deu quase tudo certo. Na quarta, ao chegar do Brasil, mesmo tendo feito uma viagem desconfortável e estar sem dormir algumas noites, deixei a mala no hotel, tomei um banho e um café forte e segui para o Louvre. As quartas o museu fica aberto ate 21:45 e dai pude visitar com certa tranquilidade a ala de arte islâmica recém-inaugurada, já na gestão Hollande. Não e exatamente recomendado fazer essa visita sem estar descansado, porque e enorme e requer atenção. De qualquer forma, foi interessante ver in loco que de fato a tal cobertura com "tapete voador" do primeiro andar da exposição faz um efeito lindo. A curadora, Sophie Makariou, havia falado de que a questão que norteou a exposição foi "O que mantinha Dar al-Islam unido?". O intuito era mostrar nos dois enormes - e classudos - andares o que ha em comum no mundo muçulmano do seculo VII ao XIX. E no campo artístico estão lá a cerâmica, os tapetes, a caligrafia, joias, mosaicos. Mesmo com inserções aqui e ali de vídeos interativos e alguma tecnologia, a exposição no geral, a meu ver, se mantém no estilo top-down desses grandes museus, como o V&A e British Museum. Quase surge um bocejo no canto da boca. A inauguração da nova ala se deu em grande medida devido ao apoio do rei do Marrocos, do sultão de Oma, do emir do Kuwait e da República do Azerbaijão e isso e muito interessante. Esta de fato o museu interessado em dar atenção a parte de sua coleção negligenciada por muito tempo? Entende que e hora de levar em conta um grande publico muçulmano que mora no pais e circula em seus espaços? Busca novos patrocinadores para projetos em uma fase de vacas magras na Europa?? Acho que parece de tudo um pouco. Comprei o album deles e vou estudar com carinho mais tarde. Certamente vou usar muito as fotografias que fiz do acervo (sem flash!) em minhas aulas. :0) Ja na quinta, amanheci no Musee Nissim de Camondo, pertinho do delicioso Parc Monceau. Esse e um museu que as pessoas visitam normalmente interessadas nas artes decorativas do seculo XVIII, ja que e riquíssimo nesse sentido. Confesso que não dei a menor bola para esse aspecto. Meu interesse e na familia Camondo em geral. Eram banqueiros originários de Istambul que se mudaram para Paris no final do XIX, imediatamente se imiscuiram entre os banqueiros e aristocratas de Paris e, apesar de nunca abrirem mao do judaísmo, se tornaram apaixonados pela Franca, a ponto de doarem sua incrivel casa e seu acervo para o Estado. Escrevo um artigo sobre eles no momento e a historia e longa e mesmo surreal, mas para fazer curta uma longa historia: a família foi extinta em Paris. Um filho morreu como aviador na Primeira Guerra Mundial e a irma foi levada pelos nazistas junto com o marido e os filhos e morreu em Aushwitz. Parti então para o roteiro " Le Paris Arabe Historique", andando pelo 5eme em busca da historia da ligação da cidade com o Oriente. O College de France e a Sorbonne evocam o inicio do ensino de arabe no pais e a curiosidade sobre o Oriente no seculo XVIII. A igreja greco-melquita Saint-Julien-de-Pauvre e um dos lugares mais antigos de culto de cristaos arabes na Franca (pertinho da Notre Dame). Diversas livrarias arabes ainda guardam uma tradicao de graficas e jornais em arabe publicados na Franca tendo o Oriente por vezes como alvo. So não consegui ir a mesquita, famosa por seu cha. Parti entao para o incrivel-maravilhoso-tudo de bom Instituto do Mundo Arabe. De cara amei o predio imponente com especie de arabescos por toda a fachada. Fui verificar a exposicao sobre as Mil e Uma Noites, que esta lindissima; filar o computador e conhecer a incrivel biblioteca (lotada); ir a falencia na livraria, me deliciar no cafe Noura (o kneife bate um bolao) e, principalmente, assistir a palestra do professor Eugene Rogan. Rogan e pesquisador do Centro de Oriente Medio do St Anthony's College, em Oxford, e uso muito seus textos em meu curso, sobretudo, o livro " The War for Palestine". A palestra (num frances fluente do norte-americano Rogan) era sobre a historia do mundo arabe na era das revolucoes e foi muito otimista - acho que demais - quanto ao que vem acontecendo desde 2011. O evento era aberto e estava cheio, mas não lotado. Para mim foi muito bom verificar que as discussoes que venho tendo em meus cursos estao afinadas com debates mais amplos no meio especializado e curioso ver que o fenomeno do " louco da plateia" e global. Cada um que pegava o microfone não parecia exatamente interessado em saber a opiniao do professor sobre esse ou aquele aspecto, mas em fazer um statement. Tendo a pensar que em eventos de Oriente Medio em especial nao ha como fugir disso: e um fato, uma caracteristica da area. No final pedi para Rogan autografar minha edicao recem-comprada de seu "Histoire des arabes de 1500 a nos jours" (que tem que ser traduzida para o portugues asap!) e não e que ele me disse que anda super interessado em visitar ao Brasil!!! :) Agora afivelo as malas e sigo para o Oriente, de verdade.

2 comentários:

  1. Excelente idéia, esta de mapear a Paris Oriental dando tua experiência pessoal. Muito bom, mesmo! Vou aguardar ansiosa todas as novas publicações deste blog. Parabéns!

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